quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Torcidas Organizadas

Torcidas Organizadas
Ódio, ignorância, intolerância. Conheça os detalhes da invasão do quartel-general da torcida organizada Gaviões da Fiel pelos são-paulinos da Independente. Uma história que começou com uma bola de bilhar.
Fonte: Placar.com.br

No fim do jogo, os integrantes da Torcida Independente entraram no ônibus e pegaram a estrada para a capital. Já dentro da cidade, por volta da 1 da manhã, saíram da Marginal Tietê e pegaram a avenida Rudge, no bairro do Bom Retiro, em direção ao centro, de onde cada um acreditava que iria para casa. Pouco à frente, porém, cerca de 80 corintianos da torcida Gaviões da Fiel esperavam o ônibus são-paulino.
Os alvinegros armaram a emboscada em frente à sede da instituição cristã Legião da Boa Vontade (LBV).Quando avistaram o ônibus com os são-paulinos, os "gaviões" tentaram pará-lo colocando-se à frente do veículo. As boas-vindas foram dadas com uma bola de bilhar, que estourou o pára-brisa do ônibus. Dionísio, o motorista, levou uma chuva de estilhaços. Como havia poucos integrantes e mulheres entre os torcedores, líderes da Independente ordenaram a Dionísio que arrancasse com o veículo.
Poucos dias depois do incidente, um muro localizado em frente à bilheteria principal do estádio do Morumbi apareceu pichado com os seguintes dizeres: "LBV 24/01/2007 É NÓIS Q. TÁ!". A frase remete à chapa política que foi derrotada na última eleição à presidência da Gaviões da Fiel, informando assim qual grupo protagonizara o “feito”. A mensagem com local e data da emboscada, acompanhado da frase cifrada, era uma provocação explícita aos são-paulinos. Um lembrete como quem diz: "Correram da briga!".
Dezoito dias depois do arremesso do caso LBV aconteceria o primeiro clássico do ano entre as equipes. A Independente queria vingança, mas o tempo era curto para planejar a ofensiva. Assim, a tropa de choque fixou a revanche para o dia do confronto seguinte: 14 de julho de 2007, um sábado.
A VINGANÇA
Na sexta-feira, véspera do clássico, integrantes da Independente discutiam na sede, localizada na Rua 24 de Maio, que o ataque aos corintianos seria ousado. Os são-paulinos escolheram enfrentar o maior "bonde" — como são chamados os grupos de torcedores brigões — da Gaviões da Fiel em seu próprio quartel-general. O local onde os alvinegros se encontram é em frente ao Sport Club Corinthians, mais precisamente no bar São Jorge.O jogo estava marcado para as 20h30. Os "independentes" se juntaram no largo do Paissandu, no centro de São Paulo, por volta das 14h. Os líderes da operação ajustavam as últimas funções para os carros — eram pelo menos três veículos. Apesar de a maioria ir de metrô ao local da briga, os carros tinham papel fundamental.
Eles passariam algumas vezes em frente ao bar para saber o número de "inimigos". Nos porta- malas estavam as armas: 20 barras de ferro e 30 cabos de enxada sem a parte de aço.Às 16h20, o grupo de são-paulinos saiu do centro e pegou o metrô na estação República, seguindo em direção à zona leste. Eram aproximadamente 90 pessoas. O grupo se espalhou na plataforma da estação República do metrô. A intenção era não formar grandes grupos, para não atrair a atenção dos policiais — em dias de clássico, eles fazem patrulha preventiva no metrô.Os automóveis chegaram primeiro e começaram a passar em frente ao bar São Jorge.
Um carro da Polícia Militar estava estacionado no local. Segundo os “independentes”, eram cerca de 80 corintianos no bar.No metrô, os são-paulinos desceram na estação Carrão e tomaram a avenida Celso Garcia. Nesse trajeto, os carros carregados pararam e abriram os porta- malas para a torcida se armar. Algumas barras estavam pintadas de vermelho, branco e preto. Os "independentes" seguiram pela Rua São Jorge, chegando próximo à Rua Santa Elvira, onde fica o bar São Jorge."NÃO É PRA MATAR"Ao avistarem os são-paulinos, os corintianos começaram a gritar: "É os caras! É os caras!" (sic). O ataque começou. Alguns "gaviões" passaram a jogar garrafas de cerveja nos "independentes", outros entraram no bar para se proteger. A maioria, porém, correu.
Os policiais que estavam no local chamaram reforços e começaram a disparar balas de borracha nos são-paulinos, sem muito efeito. A pancadaria teve início com um integrante da Gaviões que demorou a correr e acabou espancado. Quando os primeiros corintianos ficaram pelo chão, surgiu a ordem de um dos líderes da Independente: "Não é pra matar! Não mata!".Muitos alvinegros começaram a pular o muro para dentro do clube do Corinthians. Outros carros da Polícia Militar chegaram rapidamente, já que o 8º Batalhão da PM fica próximo dali. Muitos tiros de borracha começaram a acertar os “independentes”, que continuavam atrás dos corintianos.Um são-paulino foi alvo de cinco balas de borracha no peito. Mas a polícia não conseguiu o efeito necessário.
Segundo alguns "independentes", os policias começaram a dar tiros de verdade para o alto, e só aí conseguiram efeito intimidador. Ao ouvirem os tiros, três são-paulinos entraram em uma academia de ginástica perto do bar. No início, os funcionários do local não queriam deixá-los entrar, até que um dos são-paulinos implorou: “Se eu sair, eu morro!” O grupo ficou dentro da academia até as 20h.Os são-paulinos contam que sempre usam a mesma tática na hora de fugir. Logo após as brigas, se separam e cada um vai para um lado para tentar escapar da polícia. Alguns pegam táxi, outros entram no primeiro ônibus que aparece, outros pedem carona e alguns são resgatados pelos motoqueiros e pelos carros que, antes da briga, vigiavam os inimigos.Dos cerca de 90 torcedores são-paulinos envolvidos na briga, 21 foram presos para averiguação. Outros 23 corintianos também foram detidos. Todos ficaram até quase 22h no 52º Distrito Policial.
Quatro torcedores já tinham passagem pela polícia por outras brigas de torcida. Outros três corintianos foram levados ao Hospital Tatuapé, próximo ao local da briga. Apenas um deles, Piratini Tapejara de Salles Junior, conhecido como Pirata, foi internado em estado grave devido ao traumatismo craniano causado pelos golpes desferidos com barras de ferro.Um são-paulino, Marcos Alves Afonso, foi autuado em flagrante. No dia 30 de julho, o promotor Raul de Godoy Filho denunciou-o por tentativa de homicídio duplamente qualificado — motivo fútil e agressão sem chance de defesa. "Se ele for condenado, pode pegar de oito a dez anos de prisão", diz Godoy Filho, que solicitou a permanência do são-paulino na cadeia enquanto responde ao inquérito.A polícia ainda investiga o caso e tenta enquadrar os torcedores que foram detidos na averiguação no dia 14 de julho em artigos como rixa, desordem e depredação do patrimônio público. Enquanto isso não acontece, eles continuam indo aos estádios normalmente.

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